O francês Damien Blottière é definido muito mais como diretor e artista visual do que como fotógrafo. O motivo fica claro em seu trabalho para a edição de dezembro/2010 da revista digital Dazed & Confused. Nesse editorial para a Calvin Klein, suas fotos viraram alvo de corte e colagem, numa montagem espetacular que reflete o minimalismo e a complexidade do cliente em questão.
Sobre este trabalho, o autor fala: “O trabalho em colagem é como a pintura, mas com tesoura e cortador. Cortei as linhas e construi formas e rostos em papel (…) a partir da emoção que você tem enquanto fotografa um modelo procurando pelo que está abaixo da superfície. Você tem que atingir a pele para encontrar a sensibilidade“. E Damien acerta em cheio na sensibilidade!
Alguns artistas se especializam em técnicas inusitadas, outros se especializam em ser inusitados. Esse é o caso do norte americano Stephen Shanabrook, que produz arte de maneiras inimagináveis, trabalhando com a disparidade, através de associações inesperadas, estimulando formas diferentes de percepção do mundo e abraçando o esquisito.
Apesar de muitas vezes chocante e incômodo, até por trabalhar com materiais totalmente fora dos padrões (Stephen possui uma série de montagens feitas com restos de papelotes de crack e heroína dispostos em caixas de vidro, cujo resultado nem é assim tão espetacular, mas o sentido interno dessa exposição, além de chocante, é extremamente profundo), a obra de Stephen parece ser um processo de desconstruir os conceitos de belo e reconstruí-los sob nova perspectiva.
Em sua série Paper Surgery (Cirurgia de papel), Stephen pega fotografias e as deforma através de dobraduras, rasgos e amassos na obra original, revendo conceitos de beleza, aparência e estética.O resultado é assombroso e incomoda, e por isso mesmo, possui uma profundidade imensa. Nada mais atual que desconstruir a aparência em uma época que muitas vezes, aparência parece ser tudo o que importa.
Apesar do nome complicado que vem de sua ascendência búlgara, Stephan Doitschinoff é um brasileiro nascido em São Paulo, 1977, que atende pela alcunha de Calma, uma corruptela de COM ALMA em latim. Autoditada, Calma tem o sincretismo religioso como fonte inesgotável de inspiração: filho de um pastor evangélico, neto e bisneto de espíritas, com passagem por terreiros de umbanda e grupos Hare Khrishna e estudos da filosofia do zen budismo e do taoísmo, sua arte é a junção dos simbolismos de todas essas religiões, e outras mais.
Em sua trajetória houveram exposições individuais em Londres, Nova York e São Paulo. O ganhador do segundo lugar no prêmio Jabuti de ilustração, pelo livro “Palavra Cigana”, nos anos 90, e antes de trabalhar com murais e telas, fazia cenários de shows de bandas punk e capas de discos, incluindo a capa do álbum “Dante XXI” do Sepultura em 2006.
Em 2005, Calma que sempre morou em grandes centros, no Brasil e fora dele, resolveu se isolar em um estúdio no meio do mato, em uma cidade do interior da Bahia, Lençóis. De lá ele envia suas obras para São Paulo, onde são rapidamente vendidas. Com a intenção de se aprofundar no folclore e na arte popular, em suas visitas a casa em busca de santuários e oratórios para estudar, iniciou um projeto paralelo grandioso e espetacular: pintar uma cidade inteira. Depois das primeiras casas pintadas, os próprios moradores procuravam por Calma solicitando que suas casas também fossem pintadas com sua arte excepcional, que juntando o sagrado e o profano e suas visões de , mostra a trajetória das crenças religiosas em um país tomado pelo sincretismo, os mitos e as lendas…
Calma deixou Lençóis (BA) em 2008 deixando para trás uma impressionante instalação urbana feita através de sua intervenção na cidade com a colaboração de todos os moradores. Desde então já participou de várias mostras (destaque para a mostra De Dentro para Fora/ De Fora para Dentro no Museu de Arte de São Paulo) e recebeu vários prêmios como o Artista Revelação de 2009 da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) e o prêmio Interações Estéticas: Residências Artísticas em Pontos de Cultura vindo da Fundação Nacional das Artes e do Ministério da Cultura. No momento Calma segue com seu trabalho que incita uma reflexão sobre a relação de nossa herança cultural com o contemporâneo.