Em maior concentração em países em desenvolvimento, como o Brasil, porém presente em todos os demais lugares e nações do mundo, a pobreza e desigualdade social são problemas que afetam muitas pessoas, levando a mesmas a viverem em condições humilhantes e muitas vezes desumanas.
Dentro deste contexto, o fotógrafo búlgaro Dimitar Variysky sabe como poucos retratar em preto e branco a realidade e conseqüências da pobreza na vida das pessoas. Focado nos grandes centros cosmopolitas búlgaros e europeus, Variysky nos apresenta uma realidade crua e surreal, esta muitas vezes esquecida pelos mais afortunados ou simplesmente escondida por políticos e demais autoridades.
Talvez não tão chocante assim para nós brasileiros pelo fato de presenciarmos tais cenas freqüentemente em nossos cotidianos, o trabalho do fotógrafo é digno de respeito pela técnica e engajamento empregados, visto que também se é possível encontrar beleza em suas imagens através de uma contemplação mais sincera e não dotadas de preconceitos mundanos.
Apesar do nome complicado que vem de sua ascendência búlgara, Stephan Doitschinoff é um brasileiro nascido em São Paulo, 1977, que atende pela alcunha de Calma, uma corruptela de COM ALMA em latim. Autoditada, Calma tem o sincretismo religioso como fonte inesgotável de inspiração: filho de um pastor evangélico, neto e bisneto de espíritas, com passagem por terreiros de umbanda e grupos Hare Khrishna e estudos da filosofia do zen budismo e do taoísmo, sua arte é a junção dos simbolismos de todas essas religiões, e outras mais.
Em sua trajetória houveram exposições individuais em Londres, Nova York e São Paulo. O ganhador do segundo lugar no prêmio Jabuti de ilustração, pelo livro “Palavra Cigana”, nos anos 90, e antes de trabalhar com murais e telas, fazia cenários de shows de bandas punk e capas de discos, incluindo a capa do álbum “Dante XXI” do Sepultura em 2006.
Em 2005, Calma que sempre morou em grandes centros, no Brasil e fora dele, resolveu se isolar em um estúdio no meio do mato, em uma cidade do interior da Bahia, Lençóis. De lá ele envia suas obras para São Paulo, onde são rapidamente vendidas. Com a intenção de se aprofundar no folclore e na arte popular, em suas visitas a casa em busca de santuários e oratórios para estudar, iniciou um projeto paralelo grandioso e espetacular: pintar uma cidade inteira. Depois das primeiras casas pintadas, os próprios moradores procuravam por Calma solicitando que suas casas também fossem pintadas com sua arte excepcional, que juntando o sagrado e o profano e suas visões de , mostra a trajetória das crenças religiosas em um país tomado pelo sincretismo, os mitos e as lendas…
Calma deixou Lençóis (BA) em 2008 deixando para trás uma impressionante instalação urbana feita através de sua intervenção na cidade com a colaboração de todos os moradores. Desde então já participou de várias mostras (destaque para a mostra De Dentro para Fora/ De Fora para Dentro no Museu de Arte de São Paulo) e recebeu vários prêmios como o Artista Revelação de 2009 da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) e o prêmio Interações Estéticas: Residências Artísticas em Pontos de Cultura vindo da Fundação Nacional das Artes e do Ministério da Cultura. No momento Calma segue com seu trabalho que incita uma reflexão sobre a relação de nossa herança cultural com o contemporâneo.